Inspirada pela série de jogos da Ubisoft de mesmo nome, o filme Assassin’s Creed leva aos cinemas o embate entre a Irmandade dos Assassinos e a Ordem dos Templários.
A mega corporação Abstergo utiliza a tecnologia revolucionária chamada Animus que, através do acesso à memória genética, faz pessoas viverem o passado de seus antepassados. Com isso, ela planeja descobrir a localização de artefatos históricos e místicos.
O plot
Callum Lynch, um homem condenado à morte e prestes a ser executado, descobre ser o descendente do assassino Aguilar de Nerha, que viveu durante a época da Inquisição Espanhola e passa a viver trechos desse passado na Abstergo.
Ele também fica sabendo sobre a Irmandade dos Assassinos, que luta pela liberdade, e os Templários que focam em evoluir a humanidade, mesmo que seja preciso impedir seu livre arbítrio.
Se passando em duas épocas diferentes, o filme acaba focando no “presente” e na história de Cal. Temos várias viagens ao passado, mas são passagens rápidas, o que pode ocasionar de você nem lembrar o nome dos personagens dessa época ao final do filme.O filme tenta ser fiel ao jogo, mas também busca alguma identidade própria. Você percebe uma certa homenagem aos jogos mais antigos, com as perseguições na antiga cidade, mas também nota referência aos ataques em grupo que acontecem nos jogos mais recentes. E ele não abusa do fanservice, tudo está bem regulado nesse ponto…
Quem está tendo o primeiro contato com a franquia poderá entender o que se passa tranquilamente, pois o filme explica com detalhes como cada coisa acontece dentro da Abstergo, tem até textão no começo do filme.
No entanto, faltou uma explicação visual mais didática na primeira vez que Cal faz a regressão e “entra” no corpo de Aguilar. Talvez uma tomada em primeira pessoa, dele olhando para as próprias mãos, resolveria isso melhor.
Na primeira cena em Andalusia, na Espanha, Aguilar está ao lado de um grupo de assassinos mas eles não duram muito tempo. Dentre eles, a única sobrevivente é Maria, uma habilidosa assassina que se mostra uma grande aliada durante a trama. Infelizmente, é basicamente isso que sabemos dela.
Algo que atrapalha muito o filme é seu ritmo. As vezes é rápido demais e do nada fica lento… Em várias cenas dentro da Abstergo temos um personagem parado, olhando para o nada, sem dizer nada… enquanto estamos ansiosos para saber qual é a próxima cena no passado.
E toda vez que acontece uma regressão a primeira imagem é uma grande tomada aérea do lugar. Da primeira vez faz sentido, mas isso se torna repetitivo, demorado e de certa forma desnecessário.
O novo Animus e alguns problemas
O ponto que mais difere dos jogos é o formato do Animus. Em vez de ser uma cadeira ou mesa onde Cal fica para poder realizar a regressão, no filme é um braço mecânico e eletrônico ligado no teto de uma sala. Ele segura Cal pela cintura e uma série de agulhas se grudam na base de seu crânio.
Sim! Tem pouso de super herói no filme! Chupa, Deadpool!
Dessa forma, é possível que na sala se projete as imagens que Cal enxerga no passado e os cientistas da empresa tem uma visão melhor do que está acontecendo. Então, quando Aguilar pula ou luta, Cal faz exatamente os mesmos movimentos. Até mesmo quandoo Aguilar escala uma parede, Cal escala a parede da sala do Animus.
Visualmente, para o filme, isso é muito bonito e impressionante. Mas do ponto de vista da funcionalidade não é muito crível pois só vemos os movimentos em que Aguilar se move num raio pequeno de ação.
Quando ele se desloca rápido não teria como Cal sair correndo pelos corredores da Abstergo e o Animus o seguir. E o filme nunca mostra como a máquina resolve esse reposicionamento de Cal na sala…
Sem explicar bem o motivo, os cientistas colocam as hidden blades (os braceletes com lâmina escondida, marca registrada dos assassinos) nos braços de Cal durante as regressões. Isso faz com que Cal aprenda a forma de lutar dos Assassinos até mesmo a operar as hidden blades. É estranho que ninguém na empresa veja perigo nisso.
No passado temos várias cenas de tirar o fôlego como perseguições à cavalo, fuga no centro da cidade, lutas, assassinatos… tudo o que estamos acostumados a ver nos jogos. O parkour dos assassinos é impressionante, no entanto, os templários tem um dom maior, …o teleporte!Imagine que os assassinos são treinados para escapar das ocasiões mais perigosas, eles sempre fogem por cima das casas e de enormes construções com extrema rapidez e habilidade, com intuito de deixar seus inimigos para trás. Certo?
Pois na cena da fuga na cidade, Aguilar e Maria fogem dos templários que os seguem o tempo todo. Enquanto isso, os inimigos mais perigosos os seguem pelo chão à cavalo.
No final da perseguição, os assassinos escalam um enorme prédio em início de construção e quando chegam no topo, olham para trás e todos os templários estão ali, colados neles, até os que não tem o menor físico para escalar paredes… Isso é ou não é teleporte? E acontece mais de uma vez…
Outros Assassinos
Cal não é o único que faz regressões. Na Abstergo ele conhece descendentes de outros assassinos que por lá vivem. Eles não tem exatamente um motivo para estar por lá, e é de se achar estranho que eles não tenham feito nada para fugir. Calma, eu explico!
Todas essas pessoas, incluindo Cal, são consideradas mortas pelo pelo governo. Então ficar na Abstergo é uma forma de sobreviver, mas isso não justifica eles estarem por lá, já que poderiam muito bem tentar construir uma nova vida em outro lugar.
Em troca de conseguir uma boa vida fora da Abstergo, Cal recebe a missão de descobrir através de Aguilar, a localização da Maçã do Éden, um artefato com o poder de “eliminar a violência no mundo”. Ele acaba ajudando, mas parece não ter um motivo realmente forte para isso.Um fato curioso é que a maioria das armas utilizadas pelos antigos assassinos estão todas expostas nos corredores da Abstergo, sem nenhum tipo de proteção realmente eficiente.
Mesmo os seguranças do lugar parecem andar somente com cassetetes e nenhuma arma de fogo. É muito estranho que uma empresa desse porte não tenha notado essas problemas.
Imagina que reunir e treinar vários descendentes de assassinos, deixar eles soltos pela empresa e várias armas letais espalhadas pelos corredores uma hora ou outra vai acabar dando merda… e dá, obviamente…
Releve os problemas, a atuação é competente
Mas nem só de erros vive o filme! A atuação dos atores é boa, eles tentam tirar algo de bom do roteiro. Michael Fassbender faz bem (eu sempre quis escrever isso) o seu papel. É visível que ele tenta mostrar um bom protagonista, mesmo que seja um protagonista fraco.
Existem muitos efeitos especiais no filme, mas o uso de efeitos práticos deixam ele muito mais real, principalmente durante as lutas…
A trilha sonora não me remeteu aos jogos e não tem um tema muito marcante, mas embala bem o filme. Algo muito positivo é ver os espanhóis falando espanhol ao invés do inglês. Nem mesmo nos jogos é normal isso acontecer, onde os personagens não americanos tem apenas sotaque do país de onde são…
Resumindo…
Temas como violência e controle da humanidade são discutidos em alguns pontos do filme, mas nada é realmente aprofundado e o final mostra um desfecho simples para Cal que pode ser aproveitado numa continuação.
É uma pena não haver muito desenvolvimento na história de Aguilar. Basicamente, o passado serve apenas para mostrar cenas de ação. Mas seria interessante se os roteiristas tivessem encontrado uma maneira de mostrar melhor as motivações de Aguilar e sua ligação com Cal.
Assassin’s Creed, o filme, não é um desastre, mas peca em vários pontos. Pode divertir os fãs e pode até cativar um público que nunca jogou nada da série. Mas é preciso relevar bastante coisa e torcer que numa possível continuação os mesmos erros não aconteçam.
- Assistimos o filme à convite da Fox Film do Brasil e da Ubisoft.