Situado em Boston, Fallout 4 é o maior e mais ambicioso capítulo da aclamada franquia de RPG da Bethesda Softworks. O jogo cumpriu seu papel de ser um mundo aberto vasto, e com inúmeros elementos que dão vida e identidade única para esse universo. Se fôssemos analisar cada elemento, teríamos um livro, e não uma review. Então vamos resumir e apresentar o grosso de tudo.
Nessa historia, partimos da premissa do “E se…”. E se depois das bombas atômicas jogadas em Hiroshima e Nagasaki na segunda guerra mundial, a humanidade passasse a explorar ainda mais a tecnologia envolvendo o átomo?
Depois da segunda guerra, nós temos a energia atômica muito explorada como recurso, e a indústria começou a avançar desenfreadamente em cima disso, tornando toda a matéria prima do mundo escassa rapidamente, e levando à mais uma grande guerra anos depois.
Nossa história com o personagem começa em 2077, no meio da grande guerra, e somos levados com nossa esposa (ou marido, dependendo do sexo escolhido) e bebê para o Refúgio 111. Pouco antes de descermos ao refúgio, uma das grandes bombas atômicas cai sobre Boston, devastando tudo. Dentro do refúgio, você é inadvertidamente congelado em uma cápsula, assim como todos os outros, acordando em um primeiro momento para ver seu bebê ser sequestrado, e seu amor assassinado, e em um segundo momento liberado de sua cápsula, descobrindo que é o único sobrevivente do local.
Ao sair, vemos o mundo exterior todo destruído, e depois de um pouco de exploração, descobrimos que acordamos pouco mais de 200 anos depois da guerra ter devastado o mundo. Ficamos congelados por todo esse tempo, e agora temos um filho desaparecido. E é aí que o jogo realmente começa.
A exploração no game é encantadora. Podemos jogar em primeira ou terceira pessoa, e temos uma ambientação contextualizada em “Futuro-Retrô” no pós apocalipse, inundado pela radiação resultante da guerra. É muito interessante ver como as coisas evoluíram. Por causa das mutações, temos desde vacas de duas cabeças e insetos gigantes, até humanos mutantes (que podem ser diretamente comparados aos ORCS de um universo de RPG tradicional).
Quase todos os elementos do mundo são interativos, e você pode pegar praticamente qualquer coisa no cenário. Tudo o que você pega é usado como recurso de criação. (Ex. Se catarmos um brinquedo velho, teremos plástico para criação de outros itens.). Há muita coisa para aprender no game, e ele simplesmente te joga naquele mundo de início, e você realmente precisa explorar, e se virar para sobreviver (felizmente podemos acessar a sessão de ajuda no menu de pausa, com um manual gigantesco que esclarece cada coisinha).
Se você nunca jogou nenhum game na franquia, vai se sentir meio perdido no começo pela grande quantidade de elementos que moldaram a mecânica e estilo de jogo da franquia.
É um RPG até a sua raíz, tendo progressão de nível, pontos de habilidade, um número absurdo de vantagens (perks) para escolher conforme evoluímos, diálogos influenciais, carregamento de itens limitado, equipamentos e muito mais. O jogo até tenta, mas não se preocupa em te ensinar como tudo funciona, então é bem complicado de se pegar o jeito.
Começando pelo seu PIP BOY. Ele é o seu menu no jogo inteiro. é por ele que você acessa o mapa, distribui seus pontos, se equipa, cura, vê missões, acessa o rádio, Etc. É muito interessante e intuitivo, mas a navegação nesse menu “Tudo-em-um” é um pouco confusa, apesar de adaptável.
As missões principais possuem um enredo fantástico, muito bem trabalhado, e adaptável às suas escolhas nos diálogos. Só fica meio difícil diferenciar o enredo principal das missões opcionais de início, pois os personagens vão falando com você, te dando inúmeros objetivos, e toda a história é bem amarrada e justificada, sem termos marcadores distintos para cada tipo de missão (principal ou alternativa). Só com o tempo, pelas carismáticas animações do Vault Boy que ilustram cada missão, percebemos quais se tratam da história principal.
Falando em marcadores, em um mundo aberto com diversas localidades, e missões distintas, o que fez falta foi um minimapa que fosse visível em tempo real de jogo, e fora do PIP BOY. O máximo que temos é uma bússola no rodapé da tela, que aponta milhares de localizações, além dos objetivos, tudo de uma vez, de forma confusa. Precisamos aprender a ligar ou desligar cada marcador de missão ativa para tentar amenizar um pouco a bagunça e te ajudar na localização.
Temos um sistema de criação de itens muito completo, e muito complexo. Todas as armas, e armaduras que pegamos e/ou compramos podem ser completamente modificadas e aprimoradas com os recursos necessários. Além de criação de armas e armaduras, também podemos cozinhar todo tipo de comida que encontramos (carne dos animais mutantes, vegetais, etc), e manipular remédios para aumentar seus efeitos de cura, e remover a radiação dos alimentos.
Se você ingerir alguma carne crua, ou produtos industrializados, irá absorver radiação que diminui a sua saúde total, só podendo ser restaurada usando itens que eliminam radiação do seu corpo, ou visitando médicos, então muito cuidado é necessário.
A Habilidade mais legal e única da franquia é o V.A.T.S. (Vault-Tec Assisted Targeting System). Utilizando o V.A.T.S. nós realizamos nossas ações como em um RPG de mesa. Tudo fica em câmera lenta, podemos selecionar qualquer inimigo no combate, e escolher que parte do corpo dele queremos acertar (seja com tiros, armas brancas, ou porradas).
Cada parte do corpo de um alvo, dependendo da distância, tem uma probabilidade de acerto diferente com cada arma que você usa. Essa probabilidade pode ser aumentada investindo corretamente pontos de habilidade conforme você sobe de nível, então é como se a cada tiro em cada parte de cada alvo que escolhermos, fosse rolado um dado de RPG para definir se você acerta ou não aquele golpe. Conforme você acerta golpes usando V.A.T.S., uma barra de crítico se enche, e quando completa, podemos escolher realizar um acerto crítico poderoso e devastador em qualquer golpe em modo V.A.T.S.
Vale lembrar que cada ação nesse modo custa alguns pontos de ação, que assim que esgotados, levam um tempo para recuperar. Mais um elemento de RPG muito bem aplicado no game. Essa mesma barra de Pontos de ação é utilizada quando corremos ou prendemos a respiração, então é como se ela fosse aquela barra de “stamina” presente em muitos shooters.
Precisamos usar o V.A.T.S. o tempo todo para sermos bem sucedidos nas batalhas, então é um recurso fundamental durante toda a experiência.
Outra característica única de Fallout são as Armaduras Potentes, representadas com frequência nas capas dos games. São essenciais para visitar alguns locais e realizar missões que exigem uma artilharia mais pesada, além de resistência. Com as armaduras, podemos enfrentar inimigos maiores e mais fortes os quais seria impossível de sobreviver sem usarmos o grande traje.
Inimigos também podem aparecer trajando essas armaduras, e aí temos batalhas perigosas semelhantes àquelas que travamos com os Big Daddies, de Bioshock. Mas aqui, também podemos ser um.
Tanto poder sempre tem um custo. Para as armaduras funcionarem, precisamos sempre alimentá-las com reatores de fusão, que são como baterias que encontramos no jogo. Os reatores podem ser comprados nas lojas, ou raramente encontrados em certos locais.
Para nos ajudar na aventura, contamos com vários acompanhantes, controlados por computador.
Dogmeat. o cão que encantou todo o público durante a apresentação da E3 é só um dos acompanhantes. Ele, por exemplo, tem a habilidade de farejar e encontrar itens, mas cada um possui alguma habilidade única diferente, além de poder aliviar seu peso, carregando alguns itens que estão ocupando espaço demais no seu inventário.
Cada acompanhante tem uma afinidade com você. As ações que você fizer durante sua aventura encantarão ou assustarão cada um deles, fazendo com que eles te idolatrem ou odeiem, então cuidado com suas ações, e escolha suas amizades. O que agrada a um, pode ser detestável ao outro. Atingindo o grau máximo de afinidade com algum acompanhante lhe garante uma vantagem única, como ganhar mais experiência ao persuadir alguém ou encontrar um novo local.
Você também pode fazer com que um acompanhante se apaixone por você, flertando, e tendo ou não sucesso em cada flerte dependendo do seu nível de carisma. Ter uma pessoa amada lhe concede um bom bônus de experiência por um tempo a cada vez que você dormir com essa pessoa.
E se você quiser dar uma pausa nas missões e ação desenfreada, os Assentamentos são uma atração à parte. Existem muitos locais no mapa que podem ser usados como Assentamentos. Você elimina os perigos do local, e chama pessoas para morar e sobreviver por ali.
Você pode criar uma vizinhança diferente em cada assentamento, podendo fazer moradias do chão ao teto, fornecer água, plantações de comida, instalar eletricidade, decorar com móveis e quadros, e construir a defesa local de forma diferente. Cada habitante do Assentamento pode ser designado à uma tarefa diferente, como colher alimento, ou ficar de vigia e garantir a segurança.
Cada assentamento tem um nível de felicidade que vai subir ou cair dependendo de como você cuida do seu povo, e todo assentamento sem segurança pode ser atacado facilmente, então é preciso ficar atento às necessidades de todos. Depois de um tempo você vai se encontrar perguntando: Isso é Fallout ou The Sims?
Em suma, Fallout 4 é um prato cheio, feito com muito cuidado em cada mínimo detalhe, e com muita coisa a se fazer. Ainda possuem muitos Bugs no game, alguns muito engraçados, mas que não atrapalham sua diversão. Isso é quase inevitável em qualquer jogo dessa proporção, então não é um ponto negativo forte. Mesmo nos consoles de nova geração, temos quedas de framerate em muitos momentos, então jogo liso, só pra quem roda em um PC da Nasa Power, assinado pelo Terry Crews.
Mesmo sem DLC, o game vem completo, e você pode aproveitar tudo dele sem a obrigação de comprar conteúdo novo para progredir na história, ou obter alguma pequena vantagem. Ele possui inúmeras horas de gameplay e aproveitamento de conteúdo.
Engasgamos no começo para aprender a utilizar tudo o que o jogo oferece, mas depois que se pega o jeito, ele se torna divertido sendo na história principal, sidequests, assentamentos ou na simples exploração livre e tiroteio gratuito.
Em tempos de jogo lançado pela metade, e preços lá em cima, pra quem gosta de um mundo vasto, sendo hardcore ou causal, vale muito o investimento.
Jogo gentilmente enviado pela Bethesda. Versão testada: PlayStation 4