O que faz de um jogo um clássico? Sua jogabilidade? Seus gráficos? Sua diversão? Suas vendas?
Às vezes é difícil definir realmente o que faz um jogo ser um fenômeno. Um jogo muito hypado pode vender bem, mas não ser muito bom. E um ótimo jogo desconhecido pode passar desapercebido em meio a muitos outros famosos.
Hoje em dia, com a atual tendência criada no Nintendo Wii, os gráficos não são necessariamente prioridade para se criar um bom jogo. Ao mesmo tempo, alguns jogos graficamente perfeitos de PS3 ou Xbox 360 não são divertidos como sua imagem sugere.
Como podem ver não existe uma regra para definir os melhores games. Eles são os melhores e ponto. Não existe receita para isso.
E neste seleto grupo de jogos, temos “Chrono Trigger”, um RPG japonês lançado há 15 anos para Super Nintendo e atualmente em versão melhorada para Nintendo DS.
Na época de seu lançamento, “Chrono Trigger” vendeu muito. Idealizado por um time de peso conhecido como “Dream Team”, trazia o criador e o compositor de “Final Fantasy”: Hironobu Sakaguchi e Nobuo Uematsu; e o criador e designer character de “Dragon Quest”: Yuji Horii e Akira Toriyama. Este último, o lendário autor de “Dragon Ball Z” e “Dr. Slump”.
Por que esse time era considerado o “Time dos Sonhos”? Porque “Final Fantasy” pertencia à Squaresoft e “Dragon Quest” à Enix. Hoje em dia essas duas empresas se fundiram, mas anos atrás eram grandes rivais no mercado dos jogos de RPG. Foi um marco histórico reunir criadores que sempre “jogaram de lados opostos” para tentarem criar juntos uma obra-prima dos videogames.
E a promessa foi cumprida. “CT” foi responsável pela quebra de vários paradigmas há tanto tempo cultivados pelos JRPGs. Seu tema de “viagem no tempo” nunca antes havia sido tão bem explorado. Um exemplo disso é que suas ações executadas no passado alteram o futuro do jogo. Outro ponto forte: batalhas e acúmulo de experiência não são o foco, o jogo prioriza a narrativa e os caminhos por onde o jogador deseja seguir.
Um dos primeiros chefes… Toriyama e seus dragões!
Não posso dizer que a história do jogo seja extremamente complexa com zilhões de personagens, mas é bem consistente e interessante, prende a sua atenção e te faz estar sempre progredindo para saber o que virá a seguir.
Tudo começa no ano 1000 D.C., nas terras do Reino de Guardia, quando Crono está sendo acordado pela mãe para participar da Feira Milenar e conhecer a nova invenção de sua amiga Lucca. Na feira ele acaba conhecendo uma garota chamada Marle, esbarra nela e derruba seu pingente. Crono acha e entrega o pingente a Marle.
Os dois passeam pela feira, até encontrar Lucca com seu experimento. Ela havia completado sua máquina de teletransporte e Crono faz o primeiro teste, sendo teletransportado para a outra cabine. Quando Marle vai testar a máquina, uma reação com seu pingente acontece e ela desaparece num portal, deixando o pingente para trás.
Crono então resolve ir atrás dela, veste o pingente e Lucca liga a máquina, mandando ele para o ano 600 D.C. Naquela época a Rainha de Guardia, Leene, desaparece. Quando Crono chega no Castelo de Guardia ele descobre que acharam a Rainha, só que na verdade Marle está se passando pela Rainha. Quando ela foi teleportada, ela foi achada e levada para o castelo.
A máquina de Lucca, na Feira Milenar… é aqui que toda a mer, digo, …a aventura começa!
Mas a alegria de Crono em encontrar sua amiga dura pouco, ela desaparece do nada, como se tivesse morrido. Nisso Lucca se teletransporta também para o ano 600 D.C. após ter criado um instrumento que pode abrir portais do tempo. Ela descobre que Marle é na verdade a princesa Nadia, por isso a semelhança com a Rainha Leene. O que aconteceu é que, como a Rainha Leene foi raptada e não foi salva, provavelmente ela deve ter sido morta antes de gerar herdeiros, consequentemente, Marle não iria existir 400 anos depois. Sendo assim, Crono resolve procurar a verdadeira Rainha Leene. (Obs.: Estava vendo o nome da rainha e da princesa, parecem metade de um mesmo nome, não? Pois, juntando, seria “Marleene”.)
Analisando algumas ações suspeitas do Chanceler do Reino, Crono chega até uma igreja e lá é ajudado por Frog, um guerreiro que um dia foi transformado em sapo e está a serviço da Rainha. Eles acabam vencendo um Chanceler falso e resgatam a Rainha e o Chanceler verdadeiro, que também havia sido levado. Resolvido o problema, Crono segue até o local onde Marle desapareceu e ela volta a existir.
Os três voltam para o ano 1000 com a ajuda do invento de Lucca, mas as coisas não andam bem para o lado de Crono, o Rei de sua época culpa Crono por ter raptado a princesa Nadia, vulgo Marle, na Feira Milenar (essa é uma das melhores partes do jogo). Vários participantes da Feira fazem seu depoimento e, dependendo do que você fez, será mostrado enquanto as denúncias surgem.
O julgamento… uma das melhores partes do jogo. Cadê Phoenix Wright para ajudar Crono?
Assim, Crono é jogado na prisão e condenado à morte. Com sua sorte e a ajuda de Lucca, Crono foge do castelo e, para escapar dos guardas, adentra a floresta. Uma hora ele acaba ficando cercado mas acaba encontrando outro portal. Sem opção, ele entra no portal e vai parar no ano de 2300 D.C.
O futuro é um lugar desolado… Percebe-se que a tecnologia evoluiu muito, mas algo de muito ruim aconteceu, pois todos os lugares estão totalmente destruídos, pessoas vivem em fábricas e cúpulas abandonadas, tentando sobreviver como podem, sem um mínimo de esperança de viver em paz.
Numa dessas cúpulas, eles encontram informações sobre um poderoso ser vivo que teria emergido do centro da Terra no ano de 1999, causando toda a destruição no mundo. Descobrem também que ele passou anos e anos escondido dentro do planeta, absorvendo informações e energia para se tornar o mais forte possível e poder se reproduzir.
Então o grupo de Crono resolve salvar o futuro e impedir que Lavos cometa toda essa destruição. Eles conhecem Robo, um robô desmemoriado que os auxilia a achar um portal, e vão parar no ano 65.000.000 A.C.! Nessa época, os humanos das cavernas estão em guerra contra os Reptites, répteis inteligentes com capacidade de falar e andar como os humanos.
Um dos chefes mais bonitos de “Chrono Trigger” feito de puros e pixelizados pixels.
Assim a aventura continua, Crono e os outros descobrem que um mago maligno estava invocando Lavos em certo ano. Ao chegarem nessa época descobrem que Lavos já estava há mais tempo no mundo, ele havia chegado no planeta na era dos répteis, como um cometa flamejante, o que causou a extinção dos répteis.
Assim eles concluíram que o ataque de Lavos não foi apenas em 1999 D.C., pois conforme o passar das eras, ele foi responsável por várias desgraças no mundo, aumentando ainda mais a necessidade de eliminá-lo.
Não falei que a história deixa a gente curioso para saber o que vai acontecer?
Felizmente em “CT” a parte boa do game não é somente a história.
Os combates acontecem direto na tela onde se está com o personagem e os personagens são animados, indo atacar o inimigo onde eles estão, diferente dos antigos “Final Fantasy”, em que os personagens gesticulavam a arma de longe e causavam dano no inimigo. Você pode combinar as técnicas e magias dos seus personagens, criando ataques ainda mais devastadores. O interessante é estar sempre trocando o time para aprender essas combinações. O time ativo em batalha suporta apenas três personagens e, mesmo assim, os outros ganham parte da EXP para não ficarem para trás, como ocorre normalmente em outros RPGs. No geral, a batalha não é muito inovadora mas é bem competente, ela funciona e a opção de mesclar habilidades torna tudo mais dinâmico.
A trilha sonora de “CT” também está entre uma das mais vendidas no Japão, terra onde comprar álbuns com músicas de videogame não é visto com olhares preconceituosos… Alguns temas são realmente memoráveis, como a tela de título e as músicas dos mapas. A música de vitória, curiosamente, não toca em todos os finais de batalha, somente quando se consegue realmente algo importante na história ou quando alguém adere ao grupo de heróis. Neste jogo, Nobuo Uematsu trabalhou ao lado do novato Yasunori Mitsuda, dando-lhe alguns conselhos para que a trilha sonora mantivesse a qualidade vista na série “Final Fantasy”. Yasunori depois trabalhou na continuação “Chrono Cross” e em outros jogos, como “Xenogears”, “Legaia Duel Saga”, e o atual “World of Destruction” para Nintendo DS.
As novidades para o Nintendo DS foram muitas. Embora muita gente quisesse uma reformulação gráfica, ela não foi necessária, o jogo permaneceu com sua aparência 16-bits e manteve seu charme de antigamente. É claro, isso pode afastar os gamers mais novos, que começaram jogando videogame no PS2… Existem também aqueles que nasceram no fim da era 16-bit, já tiveram até mesmo um Master System da Tectoy quando eram pequenos e não entendiam de games, mas hoje em dia só jogam esses MMOs sem graça e renegam seu passado. Vai dizer que a realidade não é essa? Ou ao menos parecida?
Mesmo assim, “Chrono Trigger” ainda tem lenha pra queimar e não deveria ter um remake gráfico. É muito bom ver o traço de Toriyama estampado no jogo… Impressionante como ele sempre está metido em projetos que contêm dragões direta ou indiretamente. Deveria haver algum anime ou mesmo mangá de “Chrono Trigger”, já que sua história cairia como uma luva como roteiro.
Ah sim, claro, voltando a falar das novidades da versão do DS, agora você pode usar a tela de toque para mover seu personagem, como também ver o mapa do local onde você está, facilitando achar itens e portas, mesmo que o mapa só apareça depois que você já passou pelo local.
Abertura do jogo:
Existem também algumas quests novas, como a vila secreta dos Reptites e o chefe secreto, que você só habilita após terminar o game uma vez. Um final novo foi adicionado ao se enfrentar esse chefe. No jogo foram incluídas as animações da versão para PSONE que ilustram melhor certas partes importantes no jogo, sem retirar as cenas originais da versão SNES.
Uma das cutscenes em anime:
“Chrono Trigger” tem um sério problema, ele é muito curto. Dá para terminá-lo, em média, em umas 20 horas. O que é pouco tempo para um RPG. A parte boa é que existem muitas “side quests” que prolongam o tempo de jogo. Ao se terminar a primeira vez, você pode começar o game outra vez utilizando a mesma data e mantendo sua experiência e nível.
Mas, para que recomeçar o jogo depois de já tê-lo terminado? É assim que você habilita os outros finais, existem uns bem interessantes, como aquele em que você impede a morte dos Reptites e deixa o futuro digamos… bem diferente.
Eis os personagens principais!
Os personagens são bem carismáticos e cada um tem realmente uma motivação para estar lutando junto com os outros contra Lavos, mesmo tendo um “quê” de clichê. Afinal temos uma mulher das cavernas vinda da pré-história, um cavaleiro da época medieval, um robô do futuro e um espadachim amigo de uma inventora, mesclando um pouco do passado com o futuro… além da princesa revoltada com sua vida real, típico dos RPGs eletrônicos. E o personagem revoltado e antissocial que faz sucesso tanto nos games japoneses como em mangás e animes.
OK, eu sei, acabei de fazer um parágrafo detonando o jogo. Mas realmente não importa, os personagens funcionam muito bem. Veja só o caso do cavaleiro honrado que virou sapo e faz parte da Távola Quadrada…
…Ops… fiz de novo. Bom, vou me abster de comentar sobre os personagens… Eles não são ruins! Perguntem para Tatá, o herói…
Temos as famosas referências históricas, mitológicas e bíblicas no jogo como os três gurus do tempo com o nome dos Três Reis Magos. Também aparece o grupo de demônios formado por Ozzy, Slash e Flea (se “CT” tivesse sido feito hoje em dia essa se chamaria Pitty?).
Viajar no tempo, achar a nave Epoch, ajudar seus personagens e evoluir. Tudo isso é muito divertido em “Chrono Trigger”, ao mesmo tempo que você desfruta de uma boa história, personagens cativantes, boa música, também aprende a não ter preconceito de gráficos antigos e a ter paciência com jogos de RPG. Afinal, quem joga Pokémon, em que o detalhamento da história é nulo, pode também aproveitar uma bela aventura cheia de reviravoltas e acontecimentos dignos de um bom JRPG.
“Chrono Trigger DS” é mais do que recomendado! Não é à toa que ele está na lista dos melhores games de todos os tempos, feito pelo site Gamespot. Veja clicando aqui.
Nota: 9.0
CHRONO RESURRECTION
Não dá para falar de “Chrono Trigger” sem citar esse game. Digamos que alguns fãs do jogo resolveram fazer seu próprio remake em 3D. O trabalho estava ficando surpreendente, num nível quase profissional. Tenho que lembrar também que isso foi há alguns anos, pois toda vez que eu comento isso alguém me fala que os gráficos eram péssimos, mas essas mesmas pessoas estão comparando o gráfico do jogo com jogos atuais de PS3. O problema é que “Resurrection” estava sendo feito na época do PS2 e ERA muito bem feito para a época.
Mas o que acabou acontecendo é que a SquareEnix viu o trabalho digno de medalha do grupo de fãs e mandou um educado e-mail pedindo para eles descontinuarem o projeto e não levarem um processo da grande produtora de RPGs.
Assim foi, o game parou no meio. O grupo, após tanto tempo de trabalho, ao menos postou um vídeo na internet mostrando como o jogo seria até a parte em que ele foi desenvolvido. O site de “Resurrection” ainda está on-line e disponibiliza o vídeo em alta resolução para quem quiser fazer download.
Versão PS3 e PSP
A Square optou novamente por não refazer o game e a versão baixável da PSN será a mesma que foi lançada para PSOne com gráficos de SNES, contendo as cenas de animação, mas, sem os extras que foram criados na versão para DS.
Além disso, essa versão da PSN possui um grande tempo de loading time entre as lutas, trocas de cenário e até para acessar o menu. Mesmo rodando direto do HD do PS3 ou do Memory Stick do PSP, o game terá a mesma performance que teria rodando em disco no PSOne.
Previsão de lançamento: terceiro trimestre de 2011 no Japão e no restante do mundo a data ainda é incerta.
Esse jogo é fantástico!