Em pleno Dia Internacional das Mulheres estreia nos cinemas Capitã Marvel, o primeiro filme da Marvel com uma heroína protagonista (dia 7 no Brasil e dia 8 nos Estados Unidos para ser mais exato). Demorou bastante para isso acontecer, mais de uma década… mas aconteceu!
Dessa vez não pude conferir o filme antecipadamente para trazer aqui minha análise, então o jeito foi ver na estreia juntamente com o público. E por incrível que pareça, a sala não estava lotada.
Normalmente, os filmes da Marvel eu acabo reassistindo após a estreia porque gosto de rever e pegar melhor os detalhes. E sempre me deparo com sessões cheias… Mas dessa vez, no dia 7, havia muitos lugares vagos nas laterais do cinema. Talvez as pessoas estejam economizando dinheiro para ver Vingadores Ultimato? Não sei dizer…
Protagonizado pela atriz Brie Larson, Capitã Marvel se passa nos anos 90 e é um “filme de origem de super herói”. Mas foi montado de forma diferente para quem já estava cansado da fórmula antiga.
Ele é dividido basicamente em 3 atos. No primeiro temos Carol Danvers desmemoriada e fazendo parte de um grupo de soldados do exército Kree. No segundo ato ela vem para o planeta Terra e passa a descobrir mais sobre seu passado. No terceiro e último, ela reúne seus amigos e parte para o confronto final contra o vilão da vez.
Ao contrário de outros filmes do gênero, Carol já começa com seus poderes. O que ela vai descobrindo aos poucos é sobre seu passado e essas revelações é o que a tornam a Capitã Marvel.
A ambientação nos anos 90 é bem feita e bem convincente. Além das locações criadas para o filme em Los Angeles, como o centro comercial com uma loja da Blockbuster, a trilha sonora faz bem seu papel e tenta pegar uma vibe criada em Guardiões da Galáxia.
Os carros quadradões antigos e as roupas dos agentes de SHIELD remetem muito a filmes de buddy cop daquela década. Os filmes na locadora também passam a sensação noventista, assim como os fliperamas que decoram um ou outro cenário.
Os efeitos especiais variam um pouco. Em certos momentos eles são fantásticos, em outros bem fracos. A luta da Capitã voando no espaço, por exemplo, é bem feita e cheia de luzes e raios. Já alguns personagens feitos em CGi incomodam de tão artificiais.
Os efeitos de rejuvenescimento às vezes funcionam….
Falando em efeitos, Nick Fury e o agente Coulson estão no filme em formas rejuvenescidas. É interessante como esse efeito funcionou tão bem em Nick e ficou tão artificial no Coulson. Parece até que foram feitos por equipes diferentes.
Preciso citar também que a forma como o letreiro identifica lugares no espaço tem a mesma fonte e layout dos filmes dos Guardiões da Galáxia. É bacana que a Marvel tenha tentado manter a mesma identidade visual.
No quesito fotografia temos alguns pontos meio fracos. Se você pensa em Pantera Negra 1, você lembra do deslumbre visual e tecnológico de Wakanda, se você pensa em Thor 1, vem a dourada Asgard em mente, se for Homem de Ferro 1, temos sua mansão ou o cenário de guerra no oriente médio. Vingadores? A batalha de Nova Iorque… etc.
São todos cenários bem marcantes e diferenciados. Cada filme tem uma identidade bem definida. Mas em Capitã Marvel não existe algo assim. O que lembramos do filme ao falar dele? Da rua onde tem a Blockbuster, talvez…
Logo no início vemos as instalações dos Krees e o local não tem um design muito criativo. Mas o pior vem em seguida. Quando Vers (Carol é chamada assim pelos Krees) vai com a equipe para uma missão no planeta Torfa, o lugar é apenas um deserto escuro, numa tempestade de areia e totalmente genérico. Onde estava o departamento criativo da Marvel que fez os planetas super bacanas do filme dos Guardiões da Galáxia durante a produção do filme?
Acabei não citando, mas Vers auxilia os Krees numa infindável contra os Skrulls, seres metamorfos que podem mudar sua aparência para qualquer outra pessoa e são considerados terroristas espaciais.
Ao falhar na missão em Torfa, Vers é capturada pelos Skrulls, foge e cai na Terra. Então ela é encontrada pela SHIELD e, após alguns momentos de muita confusão (tipo Sessão da Tarde nos anos 90), ela se alia ao Nick Fury, que ainda é um simples agente. Com a ajuda dele, ela parte para revelar seu passado e escapar dos Skrulls, enquanto aguarda o resgate de seus parceiros Krees.
Dá pra ouvir o tema do Guile, não dá?
O roteiro como um todo tem um bom fechamento. As pontas soltas do começo tem resolução e realmente tudo serve para preparar a Capitã Marvel para Vingadores Ultimato.
No entanto, algo não funciona bem. O filme não é muito dinâmico e existem algumas barrigas, principalmente nas lentas cenas de diálogo. Claro que as conversas são necessárias para apresentar toda a mitologia da nova heroína. Mas parece que a Marvel não conseguiu fazer isso de uma forma mais interessante.
Como tem muito conteúdo para ser mostrado em apenas um filme de duas horas, certos trechos parecem ir pelo caminho mais simples e menos trabalhado. Numa certa cena, quando Nick inicia uma conversa com a Carol, eles fazem perguntas, um para o outro, para tentar descobrir se um deles não é um Skrull disfarçado.
Os espectadores nesse momento já sabem quais são as regras para um Skrull se transformar em humano. E nenhuma das respostas que Nick e Carol dão preenchem os requisitos. Mas mesmo assim, eles decidem confiar um no outro. Isso é bem estranho, afinal, eles poderiam estar lidando com a própria morte.
Fora isso, acontecem várias coincidências no roteiro que permitem que tudo se amarre. É algo curioso porque não acontece tanto em filmes da Marvel.
Por favor. Poderia me dizer qual é o poder de luta da Cacarol?
Embora exista uma premissa de representatividade feminina, e uma certa rivalidade com o filme da Mulher Maravilha da DC, em Capitã Marvel o foco não está no feminismo, luta contra o patriarcado ou algo do tipo.
O filme foca realmente na superação de Carol Danvers e na busca por sua verdadeira identidade. Outros personagens passam o filme todo tentando limitá-la através de ordens, porém, ela mostra determinação em seus objetivos e no final prova para ela mesma o quanto é capaz, ignorando as expectativas dos demais.
Enquanto vemos todo o poder da Capitã Marvel, a Carol é uma personagem de pouca expressão. Não sei se a Brie Larson estava nervosa durante as filmagens, ou se foi problema com a direção do filme, mas ela passa grande parte do tempo séria, de cara fechada. Por mais que seja uma atriz premiada com um Oscar, algo deu errado…
Num certo momento, Maria Rambeau, amiga de Carol, chega a dizer num diálogo “o quanto sua amiga é uma pessoa divertida”. Parece que os escritores não conseguiram fazer isso de forma orgânica e precisaram dizer… É estranho.
Se você comparar com o filme da Mulher Maravilha, lá temos uma heroína focada em sua missão, motivada por uma vingança e com objetivo de parar com as guerras no mundo. E ao mesmo tempo, é extremamente carismática com o os outros personagens, sendo com certeza um dos grandes acertos da DC no cinema.
Já Carol Danvers não tem esse mesmo apelo ou carisma. E olha que se trata de um filme da Marvel, que são sempre bem humorados, leves e pra toda família.
Piadinha com a internet vai ter sim! E mais de uma vez…
Claro que existem momentos cômicos com a protagonista, mas são poucos e, quando acontecem, é porque Nick está junto dela. Sendo ele o causador das piadas.
Nick, por sua vez, está bem diferente do que vemos em outros filmes. Mais jovem, mais inexperiente e um pouco mais fanfarrão do que de costume. Não chega a estragar o personagem, pelo contrário, nós dá espaço para imaginar como sua subida de cargo e aumento de responsabilidades dentro da SHIELD o mudou em 20 anos…
Alguns personagens de outros filmes voltaram como o agente Coulson e “Ronan, o acusador”. Infelizmente, nenhum deles tem muita importância na trama. Seus papéis servem mais para nos ambientar no universo da Marvel. O que é uma pena.
Goose, o pequeno felino chama bastante atenção e tira muitas risadas do público. E ele obviamente guarda segredos, senão, não faria ele ter um pôster próprio entre o material de divulgação do filme. E Goose é responsável pela resposta de uma curiosidade que algumas pessoas tinham, mas ninguém imaginava que fosse ser respondida da forma que foi.
Para aqueles que estão querendo saber sobre a ligação desse filme com Vingadores Ultimato, podem ficar tranquilos pois temos várias referências, principalmente perto do fim.
E como não poderia deixar de ser, temos duas cenas pós-créditos. Não saia do cinema antecipadamente!
Capitã Marvel é um filme bom com alguns problemas no roteiro, mas funciona dentro do contexto do MCU. Ele entrega o que precisa no final, mas seu “miolo” não é tão criativo.
Os efeitos 3D são bem simples, nada demais. As cenas de ação do final são confusas às vezes, diferente de filmes atuais como Alita: Anjo de Combate que tem lutas e ângulos de câmeras fenomenais.
Os momentos no espaço poderiam ser mais claros, assim como são em Guardiões da Galáxia. Talvez deixaria cenas mais fáceis de entender.
Ele vai agradar os fãs da Marvel, com certeza. De zero a dez, eu daria uma uma nota sete. E numa continuação eu torço para que troquem a direção e trabalhem melhor o roteiro.
Como curiosidade, existem vários easter eggs durante o filme para remeter ainda mais aos anos 90. Por exemplo, numa cena dentro da base secreta da força aérea americana, vemos dentro de um hangar um Espirit B2. Trata-se de um dos mais famosos jatos de guerra daquela época.
Ele é feito de uma material especial que o torna invisível a alguns radares. Diziam os conspiracionistas que ele conseguia essa façanha por ter sido feito com o material de um ovni encontrado na famosa Area 51…
Se quiser saber outras curiosidades sobre a produção de Capitã Marvel, acesse nosso outro post agora mesmo!