Embora eu tenha acompanhado jogos de luta desde Street Fighter II, só comecei a frequentar os arcades a partir do lançamento de Street Fighter Alpha (Zero no Brasil).
E mesmo gostando de vários jogos de luta, o que mais me chamava atenção eram os crossovers da Capcom. Lembro de ter comprado um PlayStation com X-Men vs. Street Fighter – Ex Edition e então jogado muito em casa, tanto sozinho como contra meus amigos.
Acredito que chegou num ponto em que o canhão do console nem lia mais o CD e já tinha decorado os dados do jogo (pena que isso não reduzia o tempo de load…).
Como as diferenças da versão arcade e PS1 eram muitas, acabei decorando todas as mudanças, eu contava os sprites faltando, mudanças em cenários, achava isso interessante e continuava jogando. E assim foi com os outros jogos lançados para consoles caseiros.
Marvel vs. Capcom Infinite é uma volta à essa época, por uma série de fatores. Muitas mudanças que vieram em Marvel vs. Capcom 2, como o excesso de coisas acontecendo ao mesmo tempo na tela, foram deixadas de lado e deu espaço para uma jogabilidade mais contida.
Mesmo com cores mais discretas o jogo ainda tem seu brilho
Proposta Infinita
É curioso que o jogo tenha tantas similaridades com os jogos mais antigos, mas também tente atrair um público novo com sua nova temática e escolha do elenco de personagens.
O grande foco de MvC Infinite é levar aos jogos de luta os personagens do universo da Marvel nos cinemas. Em outras palavras, não veremos personagens ligados aos Mutantes ou ao Quarteto Fantástico, embora existam boatos que eles surjam futuramente em DLCs do jogo.
Estória contada e vivida
Dessa vez há um modo Estória que conta de forma cinematográfica como os universos Capcom e Marvel colidiram. Entre as animações temos que jogar algumas lutas que acontecem com certos objetivos ou condições específicas para serem concluídas.
Há até mesmo elementos acontecendo ao fundo do cenário exclusivos que mostram a ação de outros personagens enquanto você luta.
Mortal Kombat vs. DC Universe foi o primeiro jogo que teve esse estilo de gameplay, porém, ele ficou mais famoso a partir do reboot de Mortal Kombat em 2011. E a partir daí, os jogos de luta passaram a usar esse recurso para contar sua lore, não obrigando mais o jogador a usar outros meios para procurar sobre o assunto.
Assim, todo o elenco de MvC Infinite (Marvel vs. Capcom Infinite) foi escalado para que fizesse sentido dentro de sua história. Claro que é um número bem menor que o visto nos jogos anteriores, são apenas 30 lutadores. E se comparar com MvC 2 que eram 56, parece ainda menor.
Embora tenha sido extremamente positivo ter esse elenco enorme em MvC 2, atualmente isso também é usado para inferiorizar novos jogos da franquia que tem um elenco menor. Esse problema é uma sombra que infelizmente ficará para sempre na série…
Personagens com características parecidas criam vínculos durante o modo Estória através de diálogos interessantes
Ainda assim, para um lançamento, o número de personagens está OK e não duvido nada que em breve tenhamos novidades em DLC. Acho bem improvável que futuramente não lancem uma “Versão Ultimate” com todos esses conteúdos extras.
Durante a campanha todos os personagens disponíveis tem sua chance de aparecer, todos tem seu momento e conseguem fazer algo útil dentro da história.
Vale a pena jogar o modo Estória pelo enredo que ele apresenta. Não é altamente rebuscado mas diverte. Nele temos a fusão dos mundos Capcom e Marvel por conta do aparecimento do vilão Ultron Sigma, a fusão do ciborgue Ultron, surgido das criações de Tony Stark com o maverick Sigma, vilão principal da série Mega Man X.
Os heróis da Capcom e da Marvel se unem para buscar as Pedras do Infinito e restaurar seus mundos. O meio da aventura é cheio de momentos épicos, nem sempre os planos dão certo e o final surpreende, dando abertura para novas histórias. Será que as veremos algum dia?
Ultron Sigma foi um vilão inusitado e bem criativo
É bom jogar?
Como dito anteriormente, nesse aspecto o jogo volta às suas raízes com um gameplay mais sóbrio e estratégico. As lutas retornaram ao 2 contra 2 e as trocas entre lutadores podem acontecer até mesmo durante os combos ou Hyper Combos, permitindo ao jogador mais possibilidades de atacar seu adversário.
As Pedras do Infinito de Marvel Super Heroes estão de volta e adicionam bastante variabilidade ao gameplay. Cada uma tem 2 funções distintas e, mesmo que 2 jogadores utilizem a mesma equipe, suas estratégias podem ser bem diferentes dependendo da pedra que estiverem usando.
Há uma barra de energia da pedra no canto inferior da tela que carrega conforme golpes são acertados. Um funcionalidade mais fraca pode ser usada sem custo algum, já a outra exige ao menos 50% da barra de poder da barra de energia.
Como exemplo, a Pedra do Tempo permite que o jogador faça deslocamentos rápidos para frente e usando a energia da barra ele fica mais rápido por um certo período de tempo.
Já a Pedra da Alma deixa o jogador roubar um pouco da vida do adversário através de um “laço de energia”, com o uso da sua barra ela ativa os 2 lutadores ao mesmo tempo na batalha e até “revive” um deles, adicionando um pouco de vida, caso já tenha sido nocauteado.
São 6 pedras: Poder, Tempo, Mente, Alma, Espaço e Realidade. E cabe ao jogador testar cada uma delas para ver qual se adequa ao seu gameplay. O bom é que não existe uma mais forte que a outra, todas foram bem pensadas e equilibradas.
Socos e chutes separados
A série Versus da Capcom sempre teve o mesmo tipo de controle até MvsC 2 chegar e mudar um pouco as coisas para se adequar ao gameplay de 3 contra 3. Isso acabou espremendo os 4 golpes fracos e médios em apenas 2 botões e muita gente torceu o nariz inicialmente.
Em seguida, MvC 3 pegou a ideia de Tatsunoko vs. Capcom e passou a ter 3 botões de ataque que eram soco e chute ao mesmo tempo, variando pela posição do lutador na tela. Mas novamente os jogadores se dividiram nas opiniões.
E agora em MvC Infinite, com a volta do 2 contra 2, a Capcom pode retornar para uma controle mais clássico. Os golpes médios não existem mais, são 2 botões para soco e 2 para chute.
Mega Man X utiliza até 2 armaduras diferentes durante as lutas
Para a maioria dos lutadores é possível fazer o chain combo completo antes de levantar o adversário para o alto e continuar seu combo. Ou seja, a jogabilidade agora lembra muito Rival Schools. E quem não gostava de Rival Schools? (aliás, como eu queria um jogo novo dessa franquia…).
Outro ponto positivo dessa nova jogabilidade é ela caber bem no controle de 4 botões, não obrigando ninguém a comprar um controle avulso de 6 botões para poder ter todos os golpes na ponta do dedão.
Comandos facilitados
A Capcom vem tentando renovar o público de seus jogos de luta trazendo maior acessibilidade aos jogadores novatos, isso todo mundo sabe. E um dos recursos mais utilizados é simplificação de comandos, que já acontece há muito tempo.
Alguns jogos como Marvel Super Heroes vs. Street Fighter já ofereciam a opção de soltar especiais e Hyper Combos direto nos botões, sem precisar de comandos. Mas era algo separado do gameplay padrão. A pessoa escolhia se queria esse tipo de ajuda ou não.
No entanto, agora em MvC Infinite, tudo faz parte da mesma gameplay. Existe agora o “combo automático” que permite ao jogador fazer um combo extenso apertando apenas um botão várias vezes. E também ao apertar soco forte e chute forte ao mesmo tempo o personagem ativa um Hyper Combo específico.
No caso do combo automático é necessário que o jogador consiga se posicionar de forma a iniciar o combo, assim, a batalha pode até ficar mais acirrada entre novatos, mas jogadores experientes podem escapar disso tipo facilmente.
E quanto ao Hyper Combo feito pelo atalho, ele já existe desde MSHvcSF. Acho que desde aquela época os veteranos já aprenderam a lidar com isso. Então não há motivo para reclamar, as facilitações para os novatos não vão comprometer o jogo para o veterano se ele for realmente bom.
Os novos poderes das Pedras do Infinito ficaram bem interessantes
Ou seja, essas facilidades não chegam a afetar muito o gameplay. Não tanto quanto a simplificação ou modificação de comando de alguns golpes.
Baixo, baixo e soco
Durante o período de testes das versões betas de MvC Infinite vários sites mencionaram a mudança do comando tradicional do Shoryuken para “dois toques para baixo + soco”. E a recepção do público foi tão negativa que a Capcom resolveu voltar o Shoryuken para o comando original.
Ainda assim, outros golpes do mesmo estilo em outros personagens continuaram com o comando novo, como é o caso do Capitão América ou da Morrigan.
Ao jogar com esses personagens, eu sempre esquecia desse detalhe e, mesmo ao lembrar que o comando foi modificado, eu levava um “meio segundo” para pensar em qual comando era. Isso era bastante incomodo ainda mais quando eu precisava de maior agilidade.
Sei que é questão de costume, mas “shoryukens são shoryukens” há mais de 30 anos. Não é fácil se adaptar assim. Foi uma pena que a Capcom não entendeu direito o feedback dos jogadores e deixou apenas o Ryu na forma original.
Não custaria nada terem adicionado uma opção de habilitar ou não os comandos simplificados. Pois é muito estranho usar esses 2 toques para baixo, principalmente em Hyper Combos.
Sei que a Capcom quer unir veteranos e novatos através de uma jogabilidade unificada, mas isso não está agradando a todos. De um lado os novatos tem várias opções de controle e do outro os veteranos estão sendo obrigados a se adaptarem mais uma vez.
Vozes e efeitos sonoros
As vozes são boas com destaque para Eric Loomis, o dublador do Homem de Ferro, que consegue fazer uma voz muito parecida com a do ator Robert Downey Jr.. Eric também faz a voz do personagem em outras produções e nos desenhos animados.
Aliás, esse é um elemento que remete aos jogos antigos. Os dubladores dos desenhos da Marvel estão dublando seus personagens em MvC Infinite e isso também acontecia lá no XvsSF, onde mutantes tinham as mesmas vozes do desenho para TV dos anos 90. É um cuidado bem legal por parte da Capcom.
Os efeitos sonoros são competentes e condizem com o jogo. Alguns até remetem a jogos antigos, como no caso da Morrigan e Jedah, dando aquele sentimento bom de nostalgia.
Se a Capcom fosse mais esperta, usaria esse recurso para atrair mais os jogadores da velha guarda, pois, como Capitão América ensinou, “é legal ficar entendendo as referências”.
Os Hyper Combos com câmeras em ângulo cinemáticos estão presentes
Um detalhe que me incomodou um pouco foi a ausência das vozes japonesas. Nos jogos recentes da empresa podíamos escolher qual dublagem queríamos em cada personagem.
Porém, em MvC Infinite apenas a dublagem americana está disponível. E acaba soando como um produto incompleto. Eu, por exemplo, não consigo ouvir o Ryu com voz e sotaque de americano falando japonês: “Shin! Sure! You! Caaan!”.
Não que as vozes sejam mal feitas, mas para mim não desce. Espero que futuramente exista um update para adicionar vozes japonesas ao jogo.
Músicas que acompanham o quebra-pau
Já no quesito trilha sonora alguns pontos são bem acertados e outros não.
Geralmente, quem curte jogos de luta prefere remixes de músicas clássicas dos personagens e não curtem muito quando a trilha é completamente nova.
Jogos como MSHvsSF ou Street Fighter Alpha 3 tinham trilhas novas e eu gostava disso porque dava um descanso para os temas clássicos, além de diminuir a possibilidade deles se tornarem enjoativos.
Em MvC Infinite todos os personagens da Marvel ganharam novos temas mas eles ficaram um tanto sem graça. Lembrando muito alguns filmes atuais que tem trilha sonora extremamente genérica que toca de fundo e ninguém se importa. Algumas são eletrônicas, outras puxam para o rock ou para aquele temas épicos com coral ao fundo.
Nada muito marcante ou que grude na cabeça. Até mesmo temas novos como o de Thor que surgiu em MvC3 não está presente, o que é triste. Como consolo, durante os créditos tocam versões lentas de alguns temas antigos como o do Capitão América e do Homem Aranha.
Já do lado da Capcom temos alguns bons remixes das músicas clássicas. O maior destaque vai para o tema da Chun-li que tem tanto a primeira como a segunda parte de seu tema original vindo lá do Street Fighter II. Há muito tempo essa segunda parte não é escutada nos novos remixes e ele faz seu retorno triunfal aqui.
Durante as lutas, ouvimos sempre a música do segundo jogador e o tema troca quando algum lutador morre e outro entra em combate. Porém, agora a música também muda para o jogador que ativar o poder acumulado da Pedra do Infinito. Isso ajuda a trazer mais emoção para o momento que pode significar a virada em uma luta.
Gráficamente falando
Graficamente MvC Infinite é sim mais simples que outros jogos como Tekken 7 ou Street Fighter V. Mas não chega a ser “horrendamente mal feito” como muitos alardeiam por aí.
Percebo que as pessoas que reclamam disso estão mais chateadas pelo fato do jogo não ter os mutantes, que são personagens queridos, do que pelos gráficos serem realmente ruins.
Claro que dá para notar que alguns modelos de personagem vieram diretamente do MvC 3, mas quantos jogos dessa série não reaproveitaram elementos de jogos anteriores? O pessoal já deveria estar acostumado com isso desde 1996.
De todo modo, há um tratamento gráfico para deixar o jogo com um estilo artístico diferente, sem tantas cores, sem cara de anime ou de quadrinhos. A ideia foi realmente aproximá-lo do estilo dos filmes da Marvel. E ele consegue muito bem.
Ainda existem muitos efeitos na tela, mas ele não agridem tanto, principalmente os jogadores mais sensíveis que reclamavam sobre os jogos mais recentes terem “explosões de cores demais na tela”.
O caso da remodelagem dos rostos da Chun-li e do Dante após inúmeras reclamações na internet mostrou que a Capcom realmente se importa com a opinião das pessoas que jogam seus jogos. E a mudança não foi somente durante as lutas, nas cenas em CGi os rostos foram modificados. Tudo foi renderizado novamente para agradar o público. Você ficou satisfeito com a mudança?
Do lado esquerdo a Chun-li que vem na mídia física e do lado direito a nova versão após instalação do patch de atualização do dia do lançamento.
Defeitos e problemas existem?
MvC Infinite acerta em muitos pontos, tem uma jogabilidade bastante responsiva e inovadora, história bacana, boa variedade de personagens e cenários legais. Ainda assim ele tropeça em alguns elementos.
Como já citado antes, poderiam deixar o jogador escolher entre comandos simplificados ou não. Para não diminuir os novatos seria só não nomear de “Easy Mode” ou “Noob Mode”, bastaria dar um nome criativo que representasse o estilo de jogo de cada um.
O modo Estória apresenta algumas lutas com objetivos extras para cumprir como, por exemplo, vencer o inimigo antes que algo seja destruído no fundo do cenário. Seria legal num próximo jogo explorarem mais esse aspecto para fazer o jogador sentir que está participando mais dos acontecimentos e não apenas lutando para ver a próxima animação.
O modo Estória é divertido mas não apresenta escolhas de caminhos para fazer
A vida do último chefe no modo Estória também ficou ridiculamente gigante. Claro que há um macete para aumentar ligeiramente o dano, mas a vida poderia ser apenas 60% do que é e ainda assim seria desafiador.
Para completar esse modo fiquei cerca de 40 minutos empacado nessa parte e não foi muito divertido, parece que não testaram muito essa luta antes de finalizarem a produção do game.
O jogo foi lançado dia 19 de setembro, então por enquanto não encontrei ninguém online para testar esse modo, mas em breve comentarei sobre ele no nosso podcast 88bits.
Marvel vs. Capcom Infinite vale a pena?
Feito para agradar a todos, Marvel vs. Capcom Infinite tem uma jogabilidade bem sólida. Embora alguns personagens clássicos façam falta (Captain Commando, cadê você?) os disponíveis são bem variados e vão garantir boas lutas até chegarem os futuros DLCs.
Não está sendo um lançamento muito caro, principalmente em mídia física, então se você curte essa série ou jogos de luta eu recomendo. Se você nunca jogou nada do gênero mas curte a Marvel nos cinemas, o jogo é bem amigável para te introduzir nesse universo.
O jogo foi localizado com legendas e menus em português, o que facilita o entendimento do modo estória. Os golpes também foram traduzidos então não estranhe ao ver que a Chun-li tem o “Chute do Pássaro”.
Não que os mutantes não façam falta nesse jogo, mas só pelo fato dele não se chamar Marvel vs. Capcom 4 já dá para ter uma ideia que ele é como se um spin-off onde a Capcom encontrou com a Marvel dos cinemas. Tanto que se chamasse Avengers vs. Capcom eu acho que o mimimi na internet iria diminuir um pouco.
Acredito que se um dia no futuro lançarem um Marvel vs. Capcom 4 ele com certeza terá todos os tipos de heróis da Marvel disponível. Até lá, podemos nos divertir com esse jogo que tem a melhor jogabilidade desde MvC 2.
Ao contrário das muitas reclamações que eu vi e ouvi, MvC Infinite é um jogo bastante completo tendo até mesmo o modo Arcade que tanto fez falta em Street Fighter V. Para quem está reclamando antes de jogar, recomendo seriamente que experimente primeiro.
- A Capcom nos enviou uma cópia do jogo versão PS4 para essa análise, testado no PS4 Pro.