Ofensivamente divertido, A Fenda que Abunda Força é tudo o que se espera de um “South Park“.
Agora que os criadores de South Park descobriram como fazer um jogo, eles repetem a dose. A Fenda que Abunda Força te coloca mais uma vez em um episódio gigante de South Park do qual você faz parte e é o mais ridicularizado (e igualmente forte).
Ofendendo qualquer problematização, etnia, religião e sexualidade atuais, o game mergulha nas referências deixadas pelas temporadas mais recentes do desenho e constrói um RPG de humor genial e imprevisível, para fãs e novatos.
Melhor que Guerra Civil
Depois de enjoar de “Game of Thrones“, Cartman obriga todos a brincar de Super Heróis, e aí começa outra briga contra Kenny.
Os personagens do desenho se dividem em dois times rivais que vão em busca de um gato desaparecido para pegar a recompensa de alguns dólares e investir numa franquia de filmes e séries de heróis no estilo DC e Marvel.
A história brinca e banaliza demais as franquias e multiversos das pioneiras dos quadrinhos e essa é só a ponta do iceberg.
O Estilo RPG do game continua, mas dessa vez as mecânicas de batalha adotam mais o “tactics“, com movimentação em blocos e alcance de ataques.
Batalhas estilo jogos de tática
A diferença de classes e estilos de ataque combinados são a chave para encontrar fraquezas e vantagens sob cada inimigo, montando a party de heróis correta para cada batalha.
É engraçado ver o quão sério as crianças e moradores da cidade levam cada treta que ao mesmo tempo não passa de uma brincadeira.
No meio de uma batalha na rua por exemplo, se um carro passar, todo mundo vai parar de lutar e ir pra calçada esperando o trânsito melhorar para continuarem brigando (até mesmo quem está morto na batalha levanta, sai, espera o carro, volta pro exato lugar onde morreu e deita de novo).
Conforme você aumenta seu nível, surgem espaços em que você pode equipar artefatos e relíquias para aumentar seu poder e o da sua equipe.
A soma de cada artefato aumenta seu número de poder total e favorecem classes específicas lembrando as combinações de equipamento de Destiny, por exemplo.
O crafting aqui também é bem presente. Encontramos e compramos materiais em todos os lugares e fabricamos nossos itens, artefatos, curas e muito mais. Quanto maior seu ranking de construção, itens mais poderosos poderão ser construídos.
Seu Bundão
Você continua jogando como o Babaca/Bundão, que é o seu próprio avatar que chegou em South Park no jogo anterior, “Stick of Truth“.
Como a brincadeira agora é de heróis, você precisa escolher seu poder e descobrir sua história. (todo super-herói ganha poder de alguma forma e passa por algum trauma, certo?)
Escolha entre 3 classes primárias, e descubra sua trágica backstory: na infância, você viu seu pai comendo sua mãe. E essa é a sua motivação para combater o crime. Trágico!
Conforme o jogo avança, você poderá escolher outras classes adicionais e combinar seus poderes. Aí sua backstory vai sendo modificada, mas sempre acaba em você vendo seu pai comendo sua mãe.
E por incrível que pareça, o título do jogo faz muito sentido, já que seus poderes primários vem do peido. Você é o herói mais fedido e zoado que se pode imaginar, e isso é estranhamente bom pra você no game.
Você vai precisar peidar em muita gente para avançar no jogo, e usar sua bunda de todas as maneiras que você imagina. (sim. todas elas.).
Nesse mini-game você usará muito sua bunda…
É possível até parar o tempo, voltar no tempo, e realizar paradoxos peidorais para solucionar enigmas e garantir vantagens nas batalhas.
Achei ofensivo. Manda Mais!
South Park não tem piedade ao criticar, banalizando todo e qualquer comportamento humano.
Quanto mais negro seu personagem, mais pesado as pessoas pegam com você no game. Não só isso, precisamos escolher entre milhares de sexualidades e orientações sexuais separadamente e lidar com intolerantes.
O mesmo vale para as religiões disponíveis, etnias, classe social, e por aí vai. Sempre vai ter gente lá pra reclamar e te violentar. (parece até a vida real, hein)
Parece até o comitê revolucionário ultra jovem
O mundo anda gourmetizado e politicamente correto demais. South Park vai lá e desconstrói tudo isso. Ou você ri, ou você ficará ofendido de todos os cantos. (e se sua alternativa é a segunda, é melhor nem começar a jogar)
Falando em ofensa e politicamente correto, uma mecânica divertida do game é a de “Micro Ofensas“. Nas batalhas, se algum adversário falar algo que ofenda você ou qualquer coisa, o aviso de “Micro Ofensa” aparece, e você pode socar a cara dele na hora.
Tenho que voltar lá? Que merda!
A maior parte de um RPG é a exploração. South Park não é exatamente muito grande, então muitos obstáculos pela cidade foram colocados para incentivar a caça por recompensas.
Muitos lugares são bloqueados de forma que você deverá retornar ali depois de desbloquear certos poderes de amigos para te ajudar.
O jogo é repleto de backtracking, mas é mal executado. Você deve percorrer distâncias fatídicas, contornando caminhos só para chegar a certo lugar e usar o poder de um amigo para adquirir um item mediano, coletar uma fanart Yaoi ou alguma fantasia.
Poucos poderes de amigos são usados para progredir na história, mas sidequests são necessárias para estar forte o suficiente para o caminho principal, e aí o backtracking e obstáculos enjoativos entram no caminho de novo.
Também é preciso decorar onde estão certos obstáculos e pessoas, para realizar missões para elas e voltar para tirar as selfies para ganhar seguidores e aumentar sua fama no jogo. Tudo é desafio para aumentar sua XP.
No começo é até engraçado ver você usando seu peido com cada personagem para resolver enigmas específicos, mas depois isso se torna bem cansativo.
Existem pontos de viagem rápida que contornam parte do problema, mas eles não são muito bem localizados e não impedem os enigmas forçados de continuarem ali.
BÔNUS: Você deveria tentar enfrentar o Morgan Freeman. Sério, vai lá campeão!
Todo RPG tem seu “Ultima Weapon”, certo? Aqui ele é nada menos que o Morgan Freeman, e seus poderes divinos. Você pode desafiar ele peidando e provocando-o. É o desafio alternativo mais difícil do game.
Como já classificou Hollywood, Morgan Freeman é DEUS!
Freeman possui uma quantidade absurda de HP e poderes extremamente roubados. Ele até invoca uma versão criança de si mesmo no meio da batalha, começa a atacar 2 turnos seguidos, e por aí vai.
Para vencer, você precisa estar bem forte, pensar muito bem na estratégia, montar sua party e ter muuuito tempo. É uma daquelas batalhas de RPG demoradas, mas vale à pena pelo hue.
Espere tudo, ou nem espera
“A Fenda que Abunda Força” é tudo o que um South Park deve ser. Você se sente mesmo dentro do desenho, e o game é relativamente longo para quem quer platinar.
Se você assiste a animação vai gostar ainda mais, pois as referências aos episódios são literalmente constantes, e vão render muitas risadas.
Com um roteiro absurdo de tão idiota, diálogos ridículos e ofensas gratuitas, tudo o que tem aqui é pra te fazer rir ou chorar (ou os dois).
A dublagem em PT-BR veio com o elenco principal da versão brasileira do desenho, mas possui problemas. Hora ou outra, a voz de algum personagem muda em certo diálogo. Foi muito problema de diagramação e listagem de falas.
Mesmo assim, se você é mente-aberta, da zoeira, e quer dar altas-risadas com qualquer coisinha problematizada, “A fenda que Abunda Força” é a Guerra Civil correta pra você.
- Recebemos o jogo da Ubisoft para testar o jogo. Versão PS4 no PS4 padrão