Pensa num filme feito para chocar, gerar polêmica e criticar o tipo de ensino arcaico que as escolas oferecem nos dias de hoje. Pois bem, você pensou em “Como se Tornar o Pior Aluno da Escola“.
Baseado no livro homônimo escrito por Danilo Gentili, o filme mostra 2 bons alunos de uma escola particular, Bernardo (Bruno Munhoz) e Pedro (Daniel Pimentel), que cansam de estudar e decidem trapacear para ir bem nas provas de fim de ano.
Num compartimento secreto do banheiro da escola, eles encontram um caderno escrito por um ex-aluno, o “Pior Aluno” (Danilo Gentili), que ensina vários truques para colar em provas, zoar professores e amigos, entre outras coisas. Um verdadeiro manual da zoeira.
Os dois protagonistas decidem ir atrás desse ex-aluno para aprender ainda mais e conseguir boas notas sem precisar estudar.
Aos poucos eles vão aprendendo a “malandragem”, deixando todos na escola com cabelo em pé, incluindo os prefessores e o diretor Ademar (Carlos Villagrán ).
Quando o Pior Aluno (Danilo) descobre que o professor que ele mais odiava se tornou diretor, ele passa a utilizar seus 2 pupilos para atacá-lo indiretamente e realizar sua “vingança”. E temos o início de uma guerra entre ex-aluno e diretor.
Roteiro surpreende
Eu não sabia o que esperar deste filme. O livro de onde ele saiu é apenas um manual para fazer “travessuras” na escola, e assim, todo o roteiro e os personagens foram criados para o longa metragem.
Existem boas piadas e ótimas sacadas que retratam bem como é a escola na visão de alunos adolescentes. O roteiro consegue manter um bom ritmo e mostra cenas bem inusitadas.
É até mesmo difícil de prever o que vai acontecer no final. Você não sabe se os protagonistas vão passar de ano, se o diretor vai descobrir o plano da cola na prova e nem como vai encerrar o conflito entre ele e o Pior Aluno.
O elenco foi muito bem escolhido. Não tem nenhuma criança com aquela atuação robótica vista nas novelas do SBT, por exemplo. Todos são bem convincentes.
Os atores que fazem os professores também foram bem escalados. Cada um tem sua particularidade e bizarrice, como são os professores de verdade na visão dos alunos.
Por ser uma história original, os produtores puderam adicionar tudo o que eles gostariam de ver num filme. Assim, ele tem muitas cenas variadas como brigas, explosões, festas noturnas e até perseguição de carro.
Eles convencem bem como alunos e como bons amigos
A trilha casa bem também com a proposta e tocam nos momentos certos. No entanto, no cinema onde aconteceu a cabine de imprensa, o som estava somente estéreo e quando a música entrava no meio de um diálogo, mal dava para ouvir a voz dos personagens. Talvez numa sala com som surround esse problema não aconteça.
Mas o filme é bom?
Como se Tornar o Pior Aluno da Escola precisa passar por 2 barreiras para ser apreciado. Primeiro, as pessoas que odeiam automaticamente qualquer filme unicamente por ser nacional. Sim, em pleno 2017 ainda vejo pessoas que tem total e completo preconceito com filmes feitos no Brasil. E isso é triste…
A segunda barreira são as pessoas que odeiam o filme automaticamente só por ter sido escrito pelo Danilo Gentili. Claro que não posso dizer que ele não tem culpa em se meter nas polêmicas que ele se mete, mas isso não torna seu filme ruim.
Seguindo o seu próprio estilo de fazer humor ácido e crítico, Danilo conseguiu neste filme de certa forma protestar contra o ensino brasileiro. Mesmo nós sabendo que escola é algo importante na vida das pessoas, todo mundo sabe (e lembra) que as vezes ir para a escola e aguentar 5 horas diárias de aulas era chato.
Acredito que para os dias atuais, o formato de ensino utilizado está bem ultrapassado e umas reformas deveriam ser feitas. Mas será que isso algum dia irá acontecer?
Enfim, Danilo satiriza isso fazendo um filme que pode agradar os adolescentes pelas cenas de anarquismo e de comédia. E ao mesmo tempo pode agradar os mais velhos que podem relembrar a parte boa da época de escola, que era poder se divertir e zoar com os amigos.
Nem o Gemidão do Whatsapp escapou de aparecer no filme
A cena polêmica envolvendo o ator Fábio Porchat, que interpreta um pedófilo, foi criada apenas para gerar buzz. Ela definitivamente não é necessária para o roteiro, é de mal gosto e um dos pontos baixos da produção. Caso ela não existisse, talvez o rage com o filme fosse até um pouco menor. Mas sabemos que o Gentili pouco se importa com a opinião das outras pessoas.
Bullying deturpado
O filme ridiculariza o bullying, reduzindo seu significado a apenas um xingamento ou um apelido que chateia as pessoas. Mas na verdade, bullying não é algo tão bobo como chamar um menino gordo de gordo.
Bullying de verdade é muito mais cruel que isso. Isso acontece quando uma pessoa sofre agressões físicas ou psicológicas diariamente, sem que ela mereça passar por isso. É levar um soco todos os dias sem motivo, ter o dinheiro do lanche roubado, o material escolar destruído, lição amassada e jogada no lixo, levar cusparada na saída da aula, etc… Em outras palavras, é fazer a vida da pessoa um inferno.
Normalmente isso acontece com quem é fraco e não consegue se defender, ou tem algum bom motivo para não poder se defender. São pessoas que acabam virando alvo de alguém que se sente bem maltratando e humilhando diariamente quem não merece. Ou seja, é algo bem pior do que apenas chamar um menino gordo de gordo.
Bullying de verdade pode custar sérios problemas à pessoa que o sofre. E o filme acaba distorcendo isso.
Coletiva de imprensa
No dia em que assistimos ao filme tivemos uma coletiva onde os personagens principais estiveram presentes. Até mesmo Moacyr Franco, que interpreta o zelador/faxineiro da descola e Carlos Villagrán estavam presentes.
Foi bacana saber o quanto eles se empenharam para produzir o filme e, dependo de seu sucesso, eles pretendem fazer uma continuação: “Como se Tornar o Pior Aluno da Faculdade“.
Será que esse filme verá a luz algum dia?
- Assistimos ao filme a convite da Paris Filmes (20/10/17)