Foram 18 anos de espera! Mas enfim, Shenmue 3 está entre nós.
Após um longo tempo de espera, os fãs da franquia já não tinham mais esperança de ver esta franquia continuar. Porém, eis que na E3 de 2015 o produtor Yu Suzuki subiu ao palco da conferência da Sony para anunciar o início projeto.
E muitos foram ao delírio. Lembrando que foi a mesma apresentação onde Crash Bandicoot e Final Fantasy VII tiveram remakes anunciados. Certamente foi uma conferência histórica.
Desde então, vários anos se passaram, alguns adiamentos aconteceram, até que finalmente o dia do lançamento chegou! Shenmue 3 continua exatamente de onde Shenmue 2 parou, dando sequência à historia de Ryo Hazuki em viagem na China, buscando vingança pela morte de seu pai.
Ele continua tendo auxilio de Shenhua e ambos chegam a uma nova localidade, o vilarejo de Bailu.
Jogabilidade
Numa visão geral, este jogo evolui algumas mecânicas, mas em grande parte se mantém fiel ao que já foi estabelecido anteriormente. Ele não tenta parecer com um jogo atual e muito menos copiar as mecânicas da moda.
Shenmue 3 foi pensado para agradar os fãs de longa data. Os mesmos que ajudaram a financiar o projeto. E talvez, para não desagradar a este público, Yu Suzuki se manteve bem fiel às raízes da franquia.
Assim, a forma como o jogo funciona permanece a mesma de antes. Há um tempo determinado do dia onde podemos explorar a cidade, buscar pistas, enfrentar inimigos, trabalhar, etc. Quando dá 9 horas da noite, Ryo automaticamente volta para casa e descansa até o dia seguinte, levantando às 8 da manhã.
O jogo é preenchido com várias atividades pela cidade, há lugares para trabalhar, fazer apostas valendo dinheiro, treinar artes marciais, desafiar lotadores de um templo. E tudo isso acaba por afastar um pouco o jogador da trama principal.
Essas mecânicas tem a intenção de colocar o jogador realmente na pele de Ryo, e viver o que ele viveria se estivesse morando num país desconhecido realizando uma investigação por conta própria.
Uma das maiores mudanças é que agora Ryo possui uma barra de estamina, que também representa sua vitalidade. Conforme se treina, luta ou mesmo corre pela cidade, esses pontos vão diminuindo, obrigando Ryo a comer para restaurar energias.
Partiu fazer uma refeição saudável?
Então é preciso comprar alimentos com dinheiro que se obtém trabalhando. Isso acaba tomando bastante tempo do jogador. Lembrando que em algumas missões principais é necessário a compra de certos itens exageradamente caros, então é bom economizar desde o início, ou se preparar para “farmar” bastante dinheiro depois.
Os eventos e encontros continuam acontecendo em horários específicos, porém, é possível acelerar o relógio para o momento desejado. Por um lado isso ajuda o jogador a ir direto ao objetivo, mas por outro, come horas em que ele poderia estar correndo atrás de dinheiro… É uma faca chinesa de dois gumes…
A trama guarda várias surpresas. Vários personagens dos jogos anteriores retornam e alguns mistérios são solucionados. Mas não espere a conclusão da saga Shenmue desta vez. O jogo termina com um gancho para continuação…
Para quem acompanhou o desenvolvimento do projeto, já sabia que Yu Suzuki confirmou que havia planos para outros jogos futuramente. A existência deles, ou não, vai depender do sucesso de Shenmue 3.
Combate
O combate foi outro ponto que recebeu melhorias. Agora são 2 botões de soco e 2 de chute e 1 de defesa. O jogador pode fazer alguns pequenos combos com esses botões e algumas combinações levam a um golpe especial.
Pode-se treinar esses golpes especiais e quando eles estão 100% dominados, pode colocá-los num botão de atalho, tornando o combate ainda mais prático.
Como eu disse anteriormente, é possível desafiar outros lutadores mais experientes no templo. E alguns são bem complicados, mas vale pelo treinamento e experiência ganha.
Alguém hoje em dia acha os quick time events algo realmente “excite”???
Passatempo
O famoso arcade continua presente, porém, os grandes clássicos da SEGA dos anos 80 não podem ser jogados. Existe uma surpresa em forma de paródia entre os jogos do local, mas o foco agora são em outros mais analógicos como a máquina de dar soco, o jogo de corrida com um carrinho passando num tambor e a máquina de dar marretada em monstrinhos.
As máquinas de gatcha ainda existem, porém, elas não trazem personagens da SEGA, apenas personagens da franquia Shenmue, itens menores ou curiosos como uma miniatura da famosa empilhadeira do primeiro jogo.
Você deve estar se perguntando o motivo dessas restrições. Bom, a SEGA licenciou somente a franquia Shenmue para Yu Suzuki. E por algum motivo não liberou suas outras IPs.
Então, é por isso que outros jogos ou personagens ficaram de fora. E isso deixa as coisas meio estranhas pois vemos Ryo colecionando bonequinhos miniaturas de seus próprios amigos…
Olha que legal essa pequena empilhadeirinha
Gráficos e som
Graficamente o jogo é bastante bonito. Os dois primeiros Shenmues foram um grande primor técnico. Com texturas de alta qualidade (para sua época), rostos cheios de detalhes e sombreamentos (fixos na textura), e grandes cenários que buscavam o realismo.
Mesmo que os personagens tivessem um traço um pouco voltado para o anime, sua alta qualidade trazia uma sensação realista difícil de encontrar em outro jogo contemporâneo.
Shenmue 3 não tem os gráficos mais complexos e elaborados dos dias atuais. Mas ele tenta seguir o estilo de antes e adicionar mais detalhes ou efeitos, dando uma certa estilizada e não puxando para o realista demais.
Assim, os personagens principais são bastante bonitos, enquanto os coadjuvantes um pouco menos trabalhados. Os cenários, por outro lado, são belíssimos com muitos efeitos de profundidade, iluminação, sombras, texturas de alta definição, reflexos. Realmente estão caprichados.
Olha esse cenário! Olha esses raios de luz!
Mas se tem algo nos gráficos que não está bom são as animações faciais dos personagens. Elas são bastante simples, lembrando um anime, onde personagens mexem somente a boca para falar.
Não há sincronia labial também, afinal o jogo é falado e mais de uma língua. Isso talvez aconteça por conta do limite orçamento, e até por conta disso possa ser algo perdoável, mas mesmo assim tira um pouco da imersão.
O departamento sonoro não faz feio. Os sons encontrados nos jogos anteriores estão aqui. Agora não há mais aquela compressão fortíssima nas vozes que aconteciam nas versões americanas lançadas para Dreamcast. E a música continua épica em momentos importantes, além de ambientar muito bem.
A qualidade dos diálogos varia um pouco, às vezes é meio enfadonha. Mas isso não chega a comprometer a qualidade geral. Já que as cenas chaves conseguem manter nosso interesse apesar disso.
Essas bolinhas verdes de estamina esgotam meio rápido…
Dava para ser melhor?
O primeiro Shenmue foi com certeza uma experiência única para sua época. Trazia uma jogabilidade e um conceito bastante diferente que impactou quem jogou no início dos anos 2000. E Shenmue 3 foca tanto em manter esses conceitos que talvez esse seja seu maior defeito.
No entanto, acredito que ele não poderia ter sido lançado de outra forma. E tentarei explicar aqui o porquê.
Shenmue 3 só foi lançado por conta do sucesso do financiamento. Quem financiou são os fãs que conheciam os jogos anteriores. Se Yu Suzuki mudasse muito as mecânicas, ela ficaria muito diferente do que os fãs conhecem e não iria atender suas expectativas, o que poderia causar uma rejeição posterior por parte deles.
Se Shenmue 3 fosse um jogo com mecânicas inteiramente novas, seguindo a evolução dos jogos atuais, passaria a mensagem que Yu Suzuki queria agradar novos jogadores.
No entanto, o jogo é focado muito em sua narrativa e ele seria lançado num ponto avançado da história. Então, para agradar esses novos jogadores, os 2 jogos antigos teriam que ser refeitos com essas novas mecânicas. E sabemos que a equipe de Yu Suzuki não teria verba disponível para isso (o financiamento foi apenas para o terceiro Shenmue).
Então, para viabilizar a criação de Shenmue 3, Yu Suzuki teria que jogar no seguro e tentar agradar quem já havia pago pelo jogo, trazendo algo com certeza de aprovação.
Não há dúvidas que há uma boa evolução em questão de texturas e sombreamento
Concluindo
Sendo assim, a conclusão é que Shenmue 3 foi pensado totalmente nos antigos jogadores. Quem jogou os recentes remasters dos Shenmues anteriores e não curtiu, nem adianta tentar este, pois é um “mais do mesmo” com algumas leves mudanças.
Talvez os diálogos pudessem ser um pouco melhores e a trama ser um pouco mais completa, ao menos dando mais pistas sobre o que pode acontecer numa possível sequência.
E os olhos “fixos para frente” que os personagens tem me deu certa nostalgia da época do Dreamcast, lembrei de Virtua Tennis. Porém, sei que hoje em dia isso não é mais aceitável.
Não acredito que Shenmue 3 vá vender muito além das cópias que foram entregues a quem o financiou. Porém, torço que o quarto jogo saia algum dia, nem que seja por financiamento novamente.