Os antigos fãs de jogos de luta que viveram a era de ouro nos anos 90, e que continuam jogando até hoje, sempre tiveram certeza de uma coisa: a “série versus” da Capcom nunca seria relançada. Todos sabiam que as complicações com licenciamento eram o fator que mantinham todos esses jogos presos aos arcades ou aos poucos ports que tiveram em suas épocas.
Eis que do “neida”, em 2024 a Capcom anuncia a produção de Marvel vs. Capcom Fighting Collection: Arcade Classics para PlayStation 4, Nintendo Switch, PC e futuramente para Xbox One. A coletânea traz todos os jogos feitos entre a parceria da Capcom com a Marvel, com exceção dos jogos totalmente poligonais.
X-Men: Children of the Atom, Marvel Super Heroes, X-Men vs. Street Fighter, Marvel Super Heroes vs. Street Fighter e Marvel vs. Capcom estão vindo neste pacote juntamente com The Punisher, o único no estilo beat ’em up que no passado teve apenas uma versão para Mega Drive.
A importância dessa coletânea é imensa. Não apenas vai agradar jogadores mais velhos, como pode apresentar a franquia desde o início para novos jogadores. Aqueles que conheceram Marvel vs. Capcom a partir do 3 ou do Infinite, agora tem a chance de conhecer os títulos anteriores e entender porque eles fizeram sucesso no passado, levando aos jogos atuais.
Partindo do princípio que se trata de uma coletânea baseada nos arcades, as muitas novidades das versões caseiras não estão presentes. Mas segundo as previews lançadas até agora, existem sim melhorias, remoção de bugs e opções para jogadores novatos.
Saiba agora um pouco sobre cada jogo da coletânea:
X-Men Children of the Atom
Foi o primeiro jogo da série e segundo da Capcom a apresentar sprites com estética de desenho animado (o primeiro foi DarkStalkers). Ele trouxe uma jogabilidade inovadora, comparando com outros títulos da época. Para demonstrar os incríveis poderes dos mutantes da Marvel, tudo era muito mais dinâmico.
Os golpes especiais tomavam grande espaço na tela, os personagens tinham super pulos, deslocamentos aéreos, várias opções de combos (principalmente digitando os botões em sequência). E a barra de Super ativava não apenas Hyper Combos, como também poderes mutantes únicos para cada personagem. Wolverine, por exemplo, podia usar seu fator de cura e recuperar parte de sua barra de vida.
X-Men: COTA não possuía uma lista enorme de personagens, mas para um primeiro jogo já era suficiente. E todos eles tinham uma quantidade absurda de frames de animação, que de certa forma, foram ligeiramente diminuídos nos jogos seguintes.
Marvel Super Heroes
O segundo jogo da franquia expandiu a variedade dos personagens da Marvel indo além dos X-Men. Homem Aranha, Capitão América, Hulk e outros entraram para a briga. E o enredo dessa vez era baseado na Saga do Infinito, tendo como vilão, Thanos, que ganhou fama recentemente através dos filmes do MCU.
MSH melhorou todos os aspectos de X-Men COTA e trouxe as Gemas do Infinito, que são disputadas pelos lutadores durante a luta. Cada uma pode oferecer um poder diferente quando ativadas e duram alguns segundos durante a luta. Certos personagens tem afinidade maior com uma ou outra gema, e os jogadores que souberem quais são, podem ter grande vantagem nos confrontos.
Outra grande novidade do jogo são os combos aéreos que partem de um golpe no chão que arremessa o inimigo para o alto. Essa simples mudança trouxe uma gama enorme de possibilidades de combos e tornou as lutas muito mais dinâmicas. No entanto, também facilitou a descoberta de combos infinitos que desbalanceiam lutas durante torneios.
X-Men vs Street Fighter
Se X-Men COTA trouxe Akuma como personagem secreto, e MSH tinha a Anita de DarkStalkers, era meio previsível que algum crossover fosse acontecer. Ainda assim, muitos foram surpreendidos com X-Men vs. Street Fighter.
Ele mesclou personagens das duas franquias e trouxe as batalhas de tag 2 contra 2. O jogador podia trocar livremente entre seus dois personagens e ainda podia colocar os dois para executar Hyper Combos ao mesmo tempo.
Como eu comentei anteriormente, os X-Men eram muito fortes, disparavam poderes enormes na tela e sua jogabilidade era muito dinâmica. Enquanto isso, os lutadores de Street Fighter vinham de jogos com jogabilidade mais contida, mais técnica. Então, para remediar isso, todos os personagens ganharam mais poder. O Hadouken do Ryu ficou duas vezes maior, seu Hyper Combo virou um Kamehameha, o da Chun-li virou uma bola grande de energia, Dhalsim cuspia fogo na tela toda, etc.
E assim a Capcom criou uma fórmula que continua sendo usada até hoje nos jogos mais recentes.
Os sprites dos Street Fighters vieram da série Alpha/Zero, e como eles seguiam o estilo cartunesco dos X-Men, tudo casou muito bem.
O jogo ainda trazia um Apocalipse como chefe final e após a batalha, os dois parceiros de equipe se enfrentavam para restar somente um campeão.
Marvel Super Heroes vs. Street Fighter
O jogo anterior ainda apresentava muitos combos infinitos e bugs na jogabilidade. E MSH VS. SF chegou para tentar solucionar isso. Ele conteve um pouco a possibilidade de combos, regulou danos de golpes e deu um tapa em vários outros elementos.
Além de fazer os Street Fighters enfrentarem outros heróis da Marvel, este é uma atualização de luxo do jogo anterior trazendo muito mais mudanças e novidades do que acontecia geralmente entre um SF2 e outro. Todos os personagens ganharam novos movimentos, Ken mudou seu estilo sendo focado mais em contato. E dos estreantes, tivemos Sakura também com poderes aumentados e Dan, com poderes diminuídos! Sim, o personagem palhaço da Capcom ficou mais fraco, para não perder a piada.
A maioria dos lutadores ganharam novas músicas, os cenários foram ligeiramente modificados. E uma mudança marcante foi a inclusão da assistência. O personagem da dupla que não estivesse lutando podia aparecer na tela, disparar um golpe e sair. Teoricamente, isso ajudaria em combos, porém, o lutador ativo não pode ser mexer enquanto usa a ajuda. Isso foi melhorado em jogos posteriores.
Neste jogo tivemos a introdução de Cyber Akuma/Mech Gouki. Suas partes mecânicas tornavam ele um chefe final muito desafiador. Seus golpes tiram muita vida e é preciso dedicação para aprender a derrotá-lo. Ainda bem que a partir de certo ponto da luta seus movimentos começam a ficar previsíveis.
A versão japonesa tem o personagem Norimaro… Quem achava que o Dan era uma piada, é porque não conheceu este outro…
Marvel vs. Capcom
Se anteriormente foi o panteão de personagens da Marvel que cresceu, desta vez seria a vez da Capcom. Apenas 3 Street Fighters estão presentes e eles dividem espaço com Captain Commando, Strider, Mega Man, entre outros.
Desta vez, todos os cenários são inéditos. Os personagens jogáveis não podem mais realizar assistência, apenas outros de uma lista específica. E a novidade da jogabilidade é poder convocar seus dois lutadores para lutarem aos mesmo tempo, por um tempo limitado, e com a barra de Hyper Combo cheia durante esse tempo.
Os novos personagens chamaram muita atenção, fazendo deste jogo um grande sucesso. E no final ainda era possível enfrentar Onslaught, um ser enorme, resultado da fusão do Professor Xavier e Magneto.
Vale uma menção honrosa para o Ryu deste jogo que tinha o poder de se transformar e usar os golpes de Ken ou Akuma. Uma parada muito doida que nunca mais foi vista na franquia.
Marvel vs. Capcom 2
A franquia estava saindo da placa CPS 2 de arcade e chegando na poderosa Naomi (baseada na arquitetura do Sega Dreamcast). Com tantos poderes em mãos, a Capcom tinha a responsabilidade de reunir todos os 56 personagens da franquia e colocar num jogo só!
E assim, MVC2 chegou, com um elenco gigantesco e trazendo batalhas de 3 contra 3. Como era de se esperar, era possível chamar todos os personagens para executarem Hyper Combos jogos. Mas as trocas entre eles ficaram mais rápidas, tornando as possibilidades de combo ainda mais dinâmicas.
Dessa vez, todos os personagens selecionáveis podiam dar assistência. E cada um deles possuía três variações de movimento. Assim, o jogador tinha uma grande variedade de opções para personalizar seu trio.
Para facilitar a jogabilidade, que passou a incluir mais opções de ajudas ou trocas de personagens, o jogo abandonou a configuração de seis botões de ataque, usando apenas quatro. Isso desagradou parte dos fãs da franquia, mas quem não viu problema nisso, pode aproveitar infinitas horas no mais ambicioso jogo da franquia até o momento.
As possibilidades de jogabilidade fazem de MVC2 um jogo que permanece sendo muito jogado até hoje em campeonatos. Não é a toa que ele vendeu absurdamente bem quando foi relançado para PlayStation 3 e Xbox 360. Numa versão que trouxe cenários em alta resolução e expandia a visão da tela, deixando-a em widescreen e sem deformar os sprites.
Como o número de personagens era enorme, não foi possível trazer música para todos eles. O jogo tinha na verdade, temas específicos para cada cenário (que a propósito, eram em 3D). E nos primeiros ports (Dreamcast, PS2, etc), poucos personagens vinham habilitados. O jogador precisava abrir os demais pagando DLC, digo, jogando e acumulando pontos. Paletas de cores e variações dos cenários também eram desbloqueáveis.
The Punisher
Este foi o primeiro jogo da parceria entre Marvel e Capcom, lançado em 1993. A versão portada para Mega Drive era até divertida, mas perdia muito para a original de arcade. Mas agora todos poderão jogar até cansar.
Junto do Justiceiro está Nick Fury, em sua versão antiga com cara de G. I. JOE (Samuel L. Jackson não é selecionável). Eles enfrentam hordas de capangas até encarar o Rei do Crime no final.
É um jogo bem bonito e divertido. Seus gráficos seguem o estilo antigo da Capcom. Com muito brilho nos sprites e sobras bem marcadas (algo comum em Street Fighter 2 ou na franquia KOF). Além de bater e usar armas brancas, os protagonistas também podem atirar nos inimigos e até mesmo atirar uma bomba que varre os inimigos da tela.
MVC Fighting Collection: Arcade Classics
Essa coletânea iniciou praticamente Street Fighter 30th Anniversary Collection e depois continuou com Capcom Fighting Collection.
Segundo dizem as previews, muito do que foi aprendido nesses jogos jogos foi usado em MVC: FCAC. Os jogos estão disponíveis de forma rápida e prática. Os menus são intuitivos, pode-se selecionar entre as versões japonesa ou americana de cada um. Há o modo treino, e existem opções extras que facilitam o acesso a personagens secretos (que existiam no arcade, claro).
Há muitas opções para facilitar a jogabilidade. Para cada jogo é possível configurar os botões separadamente. E os botões podem funcionar como execução de movimentos especiais, Hyper Combos ou até mesmo um golpe específico de cada personagem.
Em SF30AC não existe até hoje a possibilidade de configurar um botão para 3 Socos ou 3 Chutes (poxa Capcom, cadê o patch resolvendo isso?). Mas em CFC já existe essa possibilidade. Por isso, é muito difícil que MVC: FCAC não tenha essa opção. Essas combinações de botões são muito úteis na série Versus, servindo para executar Hyper Combos, usar o dash frontal ou o super pulo.
O treino foi melhorado em relação às coletâneas anteriores, com o botão de reset sendo instantâneo. E a tela continua exibindo a tabela de botões pressionados, a quantidade de danos, etc.
Os filtros de imagem continuam muito bonitos. É um belo trabalho da Capcom em tentar simular telas CRT dos antigos arcades. Nas coletâneas anteriores eu sempre estou trocando de filtro, não consigo escolher meu favorito.
Além de jogar, o jogador também pode acessar o modo de teste de músicas de todos os jogos. E há uma coleção de artworks com várias imagens que muita gente nunca tinha visto antes. Artes, rascunhos, conceitos, tudo muito interessante de ver.
Todos os jogos têm modo online funcionando com o famoso rollback netcode. Para quem curte enfrentar desconhecidos, será um prato cheio. Infelizmente, não há crossplay entre plataformas, isso pode acabar atrapalhando para localizar oponentes.
Algo que me chama muita atenção nessas coletâneas da Capcom é a fluidez dos jogos. Tudo roda muito bem, muito rápido, sem lag nos comandos e sem quedas de frame (independente da plataforma). Claro que isso é o mínimo que se esperaria de um produto oficial, mas é tão melhor do que os meios alternativos que existem por aí para rodar esses jogos que, quem experimenta, não larga mais…
Aqui no Brasil, Marvel vs. Capcom Fighting Collection: Arcade Classsics será lançado dia 12 de setembro de 2024. Na Steam está custando R$ 199,00 e na eShop da Nintendo, R$ 275,00.
Para Xbox One teremos que esperar mais um pouco. Você saber mais sobre essa versão clicando aqui.